O FANTASMA DE FRIDA SOFÍA
A frase é clássica: "Numa guerra, a primeira vítima é a verdade".
Mas, com certeza a expressão não se aplica apenas a conflitos armados. Em grandes coberturas jornalísticas, quando a "guerra" é pela manchete mais sensacional, pela história mais inusitada, pelo personagem mais comovente ou, simplesmente, por pontos de audiência, a verdade passa a ser bastante relativa, quando não, incômoda.
Nessas horas, jornalistas se deixam levar não apenas pela comoção, mas também pela falta de algo básico na profissão, o questionamento. Na esperança de achar uma grande história, o profissional pode passar a acreditarem tudo; tudo que lhe interessa.
Foi o que aconteceu, recentemente, na cobertura do terremoto do México, que teve como episódio mais dramático (se é que se pode mensurar dramas) o desmoronamento de um escola repleta de crianças.
Em meio às buscas surgiu a informação (ninguém sabe, originalmente, de onde) de que havia uma menina chamada Frida Sofía, de 12 anos, viva nos escombros. Bastou para que a mídia se alvoroçasse. Havia um nome para simbolizar todas as vítimas da tragédia. Havia uma história comovente a acompanhar. Havia um drama capaz de mobilizar o país e o mundo. Vejam matérias da TV Globo sobre o caso.
As buscas no local se intensificaram, assim como a cobertura dos meios de comunicação. Só que com as horas e os dias passando, o bom senso tratou de dar as caras, através de uma perguntinha básica: se havia uma menina nos escombros, que se identificara como Frida Sofía, como os pais não tinham aparecido por lá. A resposta caiu nas cabeças de jornalistas e autoridades como um prédio que desaba: não havia pais, porque não havia Frida Sofía.
Os socorristas que disseram ter ouvido a própria vítima se identificar sumiram. Já a Marinha, que comandava as buscas e bancara a história, teve que designar um oficial para pedir desculpas e dizer que tudo não era nada.
A rede de TV Televisa foi acusada de transformar o caso num tipo de reality show e agora enfrenta uma campanha contrária nas redes socias: #apagatelevisa
Se dizendo indignada com a história (história que ela mesma não soube, ou não quis saber, apurar direito), a emissora culpou a Marinha por tê-la induzido ao erro.
Histórias assim acontecem por lá, mas por aqui também.
No grande temporal na Região Serrana do Rio, quase sete anos atrás, a imprensa destacou a história do cachorro Caramelo, que ficava horas no cemitério, ao lado do que seria a cova de seu dono. As manchetes logo tiveram que ser desmentidas. O dono do cachorro era o coveiro e por isso o cachorro ficava por lá.
No acidente com o avião que transportava o presidenciável Eduardo Campos, o experiente repórter José Roberto Burnier entrou ao vivo com uma entrevista comovente. Um homem que teria estado ao lado dos destroços do jatinho que caiu na cidade de Santos, no litoral de São Paulo. Os detalhes do relato eram quase cinematográficos. O homem falava, inclusive, que tinha identificado Campos entre as vítimas por causa de seus olhos claros. Só que, na verdade, o personagem entrevistado era uma grande fraude.
Nesse caso, especificamente, Burnier foi traído pela necessidade de produzir informações para enormes e seguidas entradas ao vivo sem que novos fatos o ajudassem. Mas, de maneira geral, a sedução do espetacular tende a cegar o jornalista. E, em busca de uma grande manchete, ele mesmo pode virar notícia como o autor de uma grande "barriga"
Mas, com certeza a expressão não se aplica apenas a conflitos armados. Em grandes coberturas jornalísticas, quando a "guerra" é pela manchete mais sensacional, pela história mais inusitada, pelo personagem mais comovente ou, simplesmente, por pontos de audiência, a verdade passa a ser bastante relativa, quando não, incômoda.
Nessas horas, jornalistas se deixam levar não apenas pela comoção, mas também pela falta de algo básico na profissão, o questionamento. Na esperança de achar uma grande história, o profissional pode passar a acreditarem tudo; tudo que lhe interessa.
Foi o que aconteceu, recentemente, na cobertura do terremoto do México, que teve como episódio mais dramático (se é que se pode mensurar dramas) o desmoronamento de um escola repleta de crianças.
Em meio às buscas surgiu a informação (ninguém sabe, originalmente, de onde) de que havia uma menina chamada Frida Sofía, de 12 anos, viva nos escombros. Bastou para que a mídia se alvoroçasse. Havia um nome para simbolizar todas as vítimas da tragédia. Havia uma história comovente a acompanhar. Havia um drama capaz de mobilizar o país e o mundo. Vejam matérias da TV Globo sobre o caso.
Os socorristas que disseram ter ouvido a própria vítima se identificar sumiram. Já a Marinha, que comandava as buscas e bancara a história, teve que designar um oficial para pedir desculpas e dizer que tudo não era nada.
A rede de TV Televisa foi acusada de transformar o caso num tipo de reality show e agora enfrenta uma campanha contrária nas redes socias: #apagatelevisa
Histórias assim acontecem por lá, mas por aqui também.
No grande temporal na Região Serrana do Rio, quase sete anos atrás, a imprensa destacou a história do cachorro Caramelo, que ficava horas no cemitério, ao lado do que seria a cova de seu dono. As manchetes logo tiveram que ser desmentidas. O dono do cachorro era o coveiro e por isso o cachorro ficava por lá.
No acidente com o avião que transportava o presidenciável Eduardo Campos, o experiente repórter José Roberto Burnier entrou ao vivo com uma entrevista comovente. Um homem que teria estado ao lado dos destroços do jatinho que caiu na cidade de Santos, no litoral de São Paulo. Os detalhes do relato eram quase cinematográficos. O homem falava, inclusive, que tinha identificado Campos entre as vítimas por causa de seus olhos claros. Só que, na verdade, o personagem entrevistado era uma grande fraude.
Nesse caso, especificamente, Burnier foi traído pela necessidade de produzir informações para enormes e seguidas entradas ao vivo sem que novos fatos o ajudassem. Mas, de maneira geral, a sedução do espetacular tende a cegar o jornalista. E, em busca de uma grande manchete, ele mesmo pode virar notícia como o autor de uma grande "barriga"
Comentários
Postar um comentário